Cinema à brasileira: nossa história nas telonas

Por Maria Esther Valdiviezo

Apenas 33 pessoas assistiram à primeira exibição pública de um filme no mundo. Os irmãos Lumière tinham dois filmes, “A saída da fábrica Lumière em Lyon” e “A chegada do trem na estação”. A plateia teria assistido ao primeiro admirando sua beleza, entretanto, a chegada do trem assustou os espectadores que pensavam que o trem iria sair da tela. Dizem que o público até se escondeu atrás das cadeiras. Era 1895, em Paris.

“A chegada do trem na estação” (1895), irmãos Lumière

Os irmãos, que eram fotógrafos e empresários, viam aquela revolução como um avanço científico. Quem enxergou além disso, foi George Mèlies. Responsável pelo filme “Viagem à Lua”, marco importante para a história do cinema e precursor dos efeitos especiais. No Brasil, a sétima arte desembarca menos de um ano depois, no Cinematographo Parisiense no Rio de Janeiro.

O início do cinema brasileiro

Apesar de não ter se desenvolvido com a mesma força que na Europa e nos Estados Unidos, o cinema brasileiro dava seus primeiros passos. Em 1930, é criada a Cinédia, primeiro grande estúdio cinematográfico. Filmes que ganham destaque nessa época são “Limite” (1931) de Mário Peixoto e “A voz do carnaval” (1933), no qual Carmen Miranda faz sua estreia, filme de Ademar Gonzaga e Humberto Mauro.

É interessante notar que nesse tempo a existência de ciclos regionais de cinema impulsionavam e diversificavam as produções. O que é o caso do ciclo de Cataguases (MG), que teve o filme “Ganga Bruta” (1933) de Humberto Mauro, como um dos considerados mais importantes da nossa história.

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Em 1939 é decretada uma lei que estabelece uma cota mínima de exibição de filmes nacionais. Isso devido ao desejo do empresário Francisco Serrador de apenas exibir filmes estrangeiros em suas salas de cinema. A seguinte década, os anos 40, trariam o primeiro gênero brasileiro, as chanchadas.

A Atlântida e as chanchadas

Em 1941, é criada a produtora Atlântida de Moacir Fenelon e José Carlos Burle no Rio de Janeiro. Ela lança filmes icônicos como “O Moleque Tião” (1943), dirigido por Burle e com Grande Otelo no papel principal. Outros atores consagrados desse tempo foram Oscarito e Anselmo Duarte.

Com baixo orçamento, grande apelo popular, mistura de comédia e musical, as chanchadas – apesar do nome ser pejorativo, algo como “porcaria” na língua espanhola – tinham sucesso de bilheteria. Não eram as preferidas pelos críticos, por considerarem os filmes vulgares, entretanto duraram até os anos 50/60.

Reconhecimento internacional

Conhecido como Cinema Novo, os anos 60 trouxeram umas perspectiva social e cultural para as grandes telas. Nomes como Glauber Rocha, Roberto Santos, Arnaldo Jabor e Nelson Pereira dos Santos são ótimos exemplos que fizeram jus ao lema do movimento: “uma câmera na mão e uma ideia na cabeça”. Ainda assim, alguns apontam “Pagador de Promessas” como o primeiro dessa conjuntura. Escrito e dirigido por Anselmo Duarte, a obra foi vencedora do Festival de Cannes e indicado a melhor filme estrangeiro no Oscar.

A miséria, a desigualdade social, a pobreza e demais temas desse cunho, aliado a produções de baixo custo, mas com extrema qualidade cinematográfica, lançam o Brasil para o cenário mundial. Além disso, serviam como ferramenta contra a ditadura militar. Outros filmes que foram premiados são “O dragão da maldade contra o santo guerreiro” de Glauber Rocha, “Macunaíma” de Joaquim Pedro de Andrade, “Os Fuzis” de Ruy Guerra e “Vidas Secas” de Nelson Pereira dos Santos.

Anos 90 até hoje

A realidade é que o cinema brasileiro tem a característica de passar por inconsistências, sem períodos estáveis de produções. Crises, tanto de cunho econômico quanto político, criação e fechamento de órgãos estatais direcionados para o incentivo do cinema, e principalmente, a falta de verba, são os responsáveis por esse cenário.

O ano de 1995 é marcado por uma retomada da indústria, especialmente por “Carlota Joaquina, a princesa do Brasil” de Carla Camurati, sucesso nos cinemas. Somado a isso, cresce o número de brasileiros assistindo filmes nacionais. Nesse período, são indicados ao Oscar: “Central do Brasil” (1998) de Walter Salles, “O Quatrilho” (1995) de Fábio Barreto, e, mais recentemente, “Cidade de Deus (2002) de Fernando Meirelles e “O menino e o mundo” (2016), filme de animação de Alê Abreu.

Ou seja, a partir dos anos 90, a indústria cinematográfica começa a ser rentável, com diversos títulos de diferente gêneros. Conhecida como a década da retomada, são criadas leis de incentivo e em 2001, a Agência Nacional de Cinema (Ancine). Hoje, o grande agente que através de editais disponibiliza verbas para as produções nacionais.

Lista dos 10 melhores filmes brasileiros

Feita pela Associação Brasileira de Críticos de Cinema (Abraccine), o ranking pode ser visto passando o mouse pelas bolinhas coloridas

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